19.5.12

ESTAR DEBAIXO DA LÍNGUA


Como qualquer odontologista poderá confirmar, debaixo da língua encontram-se apenas duas coisas: as papilas gustativas e as aftas. Partindo, claro, do princípio que a boca está lavada e sem os restos do frango assado do almoço.
Sendo assim, é razoavelmente disparatado dizer que está debaixo da língua aquilo que sabemos mas não nos lembramos. Se não nos lembrássemos das aftas, isso não constituiria por si só um problema, já que não dávamos por elas e, assim como assim, não passam de uma manifestação corporal, em que o nosso organismo oferece mais de si, pelo mesmo preço.
Quanto às papilas, mesmo que não nos lembrássemos delas, elas estão lá, debaixo da língua onde é suposto estarem e não se espera que saiam. De resto, não seria agradável ver andar por aí as pupilas gustativas de cada um, contando os segredos de tudo quanto nos entra pela boca. Nomeadamente, e não é meu intuito fazer discriminação, mas há que dizê-lo com frontalidade, as papilas de certas loiras deveriam ter muito que contar, como a nau catrineta.

ESTAR EM BANHO MARIA


Reza a lenda, que esta expressão é uma alusão à alquimista Maria, possivelmente irmã de Moisés, o líder hebreu que viveu entre os séculos XIII e XIV AC. Foi ela quem inventou o processo de cozinhar lentamente alguma coisa mergulhando um recipiente com essa substância em água a ferver. 

Bullshit, i say!
O que sabem as lendas sobre questões culinárias, se nem estrelar um ovo são capazes? Isto é apenas uma forma hábil de, por um lado, encher as cabeças dos nossos jovens com mais uma expressão ôca, e por outro, fazer habilmente uma referência sexista ao papel das mulheres no seu habitat natural: a cozinha. Claro – tínhamos um problema de cozedura, era preciso inventar-se algo. Foram chamar o chefe Silva? O Henrique Sá Pessoa? Anthony Bourdain? Olivier? Gordon Ramsay? Não. Foram buscar uma mulher, ainda por cima Maria, para reforçar a sua menor categoria social e assim proporcionar uma maior humilhação!!!


Ainda para mais, a posterior distorção desta expressão levou-a a ser utilizada em tudo quanto é sítio, desde a caracterização do processo judicial do Isaltino Morais até aos submarinos do Portas, passando pela estado do Jesus no comando do Benfica, quando o mais natural seria efectuar uma pequena correcção para tornar as coisas mais correctas e mais, digamos...apetecíveis, como, por exemplo, “dar banho à Maria” ou “estar no banho com a Maria”.
Isso sim, era coisa de valor.

ESTAR A METER ÁGUA


Se estivermos a fazer vinho, meter água é uma aldrabice. Se estivermos a falar de um navio, é sinónimo de afundamento. Se estivermos a fazer sopa, é um passo necessário. Para um bombeiro, meter água é a sua profissão. Numa estação de serviço, meter água no radiador é sinal de cuidar do automóvel. Se o telhado meter água, o senhorio mete-se em despesas.
Poderíamos seguir indefinidamente e não encontraríamos explicação para o sinónimo de fazer asneira, que se costuma dar a esta expressão. Ok, descontando o Titanic e o Costa Concordia, onde a culpa foi dos comandantes que aparentemente tinham mais o que fazer do que dirigir o navio e olhar para a frente. Sendo assim, porque diabo surgiu esta associação de ideias? Será assim tão difícil ver que isto está errado? Já para não falar na questão linguística, pois a água despeja-se, transvasa-se, introduz-se, verte-se, entorna-se. Não se mete.
Basta pensarmos um bocadinho: se a asneira fosse água, alguém me explica como é que este país ainda estaria à tona da dita? Para mais sendo nós uma jangada de pedra, pelo menos pelas teorias do Saramago. S.Bento não estaria já a fazer companhia à cidade perdida da Atlântida? Impossível.

29.4.12

ESTAR A AFIAR O DENTE


Mais uma expressão a proibir, por incitamento às más práticas junto da juventude. Em termos odontológicos, afiar o dente é desaconselhável pois, além de desgastar o esmalte, podendo facilitar a propagação de cáries, não é de desdenhar o irritante barulho da lima a afiar o dente, algo tão impressionante como o arrastar de unhas no quadro negro ou o deslizar do garfo no fundo do prato de porcelana chinesa (da loja do chinês).


Acresce que, a utilização desta expressão como sinónimo de se estar a preparar para comer algo, está errada. Nem o homem de Cro-Magnon afiava os caninos para suprir a falta de garfos e facas no ataque ao bife da vazia, quanto mais hoje em dia, onde além de todos os talheres obrigatórios constantes dos livros da Paula Bobone, o homem moderno nem precisa de mastigar muito a sua carne, seja porque as hormonas a deixaram tenra, seja porque já vem pré-mastigada em hamburgueres e outras porcarias do género.

Aliás, na temática afiar dentes, não me ocorre outro nome senão o de Lestat de Lioncourt (não sabem quem é? Consultem mais a Wikipédia) que, para começar, não era humano, nem servia de exemplo para ninguém. Ele sim, poderia ter necessidade de recorrer ao acto de afiar o instrumento de trabalho caso não optasse sempre por pescoços mais tenrinhos o que, diga-se, seria uma parvoíce não fazer, dada a escolha que tinha.

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS

Eis um paradoxo matemático-religioso que levanta mais questões do que fornece respostas. Pois não foi Deus (favor, não ler com sotaque brasileiro) que durante seis dias construiu o universo, descansando ao sétimo? Se esta vida são dois dias, o que se passou nos outros cinco? Deus fez horas extraordinárias devidamente remuneradas ou trabalhou ilegalmente? Sendo a vida dois dias, em que dia calha a folga? Coincide com o fim de semana? E quando se faz uma ponte, para que servem três dias ou mais de descanso, se a vida são apenas dois?
Dever-se-á também atender que os dois dias que compõem esta vida (segundo esta destrambelhada expressão) constituem indirectamente uma negação dos ideais presentes no Manifesto do Partido Comunista redigido por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848 e, portanto, esta expressão poderá ser considerada reaccionária. Porquê? Porque é do domínio público que a maior organização política e cultural do nosso país realiza-se na Quinta da Atalaia, Seixal e tem a duração de três dias – a Festa do Avante! Ora, se esta vida fossem apenas dois dias, das duas uma: ou o PC andava a desperdiçar recursos numa festa de três dias em que no terceiro já não havia audiência para pagar bilhete ou, se é apenas ESTA vida que são dois dias, então ao terceiro da Festa do Avante, o público já estaria NOUTRA vida, o que por si, remete para questões de crenças religiosas em teorias de reencarnação, o que, dado estarmos a falar de comunistas, é impossível, pois a religião é o ópio do povo (já o dizia Karl Marx) e isso indicaria que todos os comunistas andariam drogados. Conclusão, como abundantemente temos demonstrado ao longo desta obra, também esta expressão deveria ser banida do léxico nacional, a bem da nossa sanidade mental. E se o dano não é maior, demos graças a alguma entidade suprema por nos ter feito tão saudavelmente amorfos que poucos utilizam o seu intelecto para pensar nestas prementes questões, categoria em que o escriba, desgraçadamente, se inclui.

ESSA NÃO LEMBRA AO DIABO

Esta equivalente de ideia inusitada, traz em si mesma uma contradição assinalável: pois se nem ao diabo ela lembra, como foi possível ter esta ideia?
Em segundo lugar, o facto de não lembrar ao diabo pode apenas significar que o mafarrico sofre de Alzheimer em estado avançado, esquecendo-se de tudo, inclusive do seu próprio nome. Ou talvez não. Talvez o diabo simplesmente não se tenha lembrado por andar stressado com excesso de trabalho, porque isto já se sabe, um só diabo para administrar todo o mal do mundo, agências de rating incluídas, não deixa grande tempo para o lazer. Um diabo também não se pode lembrar de tudo, pois se tivesse uma grande memória não era diabo, era elefante. E mesmo que essa possa não lembrar ao diabo, poderá eventualmente lembrar a mais alguém. Há muita gente com cabeça para pensar (ouvi dizer, não tenho saído muito à rua), donde dizer que algo não lembra ao diabo não quer forçosamente dizer que não lembre a mais ninguém. Que diabo! Sempre somos não sei quantos biliões! E mais seis milhões de benfiquistas.

31.3.12

ESSA É QUE É ESSA

Na origem desta expressão estará um diálogo ocorrido em meados do séc. XIX quando, num velho sótão de uma casa na Ribeira do Porto, foi encontrada uma arca com antigas redacções de escola de grandes figuras das letras portuguesas, entre as quais Eça de Queirós, Júlio Dinis e Camilo Castelo Branco, embora não devidamente identificadas.

Da discussão sobre a qualidade literária das mesmas, passou-se ao bate-boca violento sobre a autoria de cada uma das redacções:

- ...estas aqui são do Camilo, mas esta é nitidamente do Eça.
- Desculpe, mas essa é que é do Eça, percebe-se perfeitamente!
- Homessa! Estou a dizer-lhe que essa é do Camilo, homem, não me contradiga!
- Já lhe disse que essa é do Eça, só não vê quem não quer...
- Bom, para o caso também não importa, Camilo ou Eça...
- Ora essa?! Eça é que é Eça, Eça não pode ser Camilo!...

Por testemunho da mulher a dias que passava no local, esta conversa chegou até aos nossos dias, contudo, dado a pobre senhora ser analfabeta como era usual naquela época, adulterou-se (a expressão, não a senhora) e o cê cedilhado deu lugar aos dois esses, pelo que, fora do contexto e com grafia incorrecta, não tem hoje qualquer merecimento de existência.

É O TANAS!

Tudo bem, estando de bom humor vamos considerar por um momento que, de facto, é o tanas. Mas é o tanas, o quê???

Isso é nome ou é apelido? Sendo o tanas um sujeito, desde logo há que apontar o erro de português ao utilizar o “é”, singular com o “tanas”, plural. Quando muito seria “são os tanas!”

Mas se o dicionário assinala a tanaria como uma fábrica de curtumes, será o tanas o indivíduo que lá trabalha? Ou será que o tanas é a forma de calão para designar o artífice da tanoaria? A ser assim, e dado ser uma profissão em extinção, já que as pipas actuais não são feitas no tanoeiro mas sim no McDonalds e Burguer King, então menores serão as justificações para a manutenção desta expressão. E para quem não alcançou a relação entre pipas e McDonalds, muito provavelmente é porque lá come.

Corre insistentemente em alguns sectores da psicanálise, que foi com base no tanas que Freud criou o termo “tanatos” para agrupar o instinto de morte e o instinto de destruição, o que só junta mais um argumento para que esta expressão estivesse já morta.

ENQUANTO O DIABO ESFREGA UM OLHO

Será que o criador desta estúpida expressão pode comprovar que o diabo esfrega o olho a velocidade superior do que qualquer outro ser?

Duvido. Para já o diabo nem deve esfregar os olhos muitas vezes, porque:

a) por incredulidade não esfrega, basta ver a quantidade de gente que hoje se dá bem com deus e com o diabo, em simultâneo, fazendo disso um modo de vida, enquanto o diabo acredita em tudo;

b) por conjuntivite não esfrega, pois o ambiente no inferno é demasiadamente quente para que nele sobrevivam factores de agressão para a mucosa ocular;

c) por chorar não esfrega, já que o diabo até pode usar cascos de salto alto e barbicha aparada, relativamente amaricados, mas não consta que seja sensível ao ponto de chorar

Portanto, nas restantes hipóteses em consideração, a necessidade ocasional de esfregar um olho não deverá ser mais rápida do que a do comum dos mortais, não se percebendo assim a utilidade desta expressão.

18.3.12

EM CASA DO DIABO MAIS VELHO

Passe a redundância, por que diabo há-de a casa do diabo mais velho ser sinónimo de longínquo? Só porque o diabo é mais velho, isso quer dizer que ele mora num lar de terceira idade, demasiado longe para que a família o visite todos os fins de semana, sendo por isso um diabo velho, seco, amargurado e esquecido?

Além do lar não ter necessariamente de ser longe, se a explicação for essa, então estamos perante uma insanável dúvida dogmática relativamente à religião cristã, que sempre considerou a existência de um só diabo!

Ora se o povo fala num diabo mais velho, à partida é de supor que existe, no mínimo, um diabo mais novo. Quem sabe se não mesmo uma família de diabos com os seus respectivos diabretes? No fundo, não será esta expressão uma forma do povo renegar os ensinamentos seculares que a igreja lhe impingiu? Não poderá estar aqui o início da derrocada de toda a estrutura de fé e, por consequência, o fim da sociedade ocidental tal como a conhecemos? Será que a data prevista pelos Maias para o fim do mundo, não será a data em que o ser humano se vai consciencializar da tremenda falha cognitiva desta expressão, entrando todo um modo de vida em colapso, com os consequentes pânico e caos, motins, falências de sistemas monetários, declínio da actividade económica e extinção de todo um modo de vida? Tememos que o fim esteja próximo.

ELA POR ELA

Usada desde tempos imemoriais como sinónimo de duas situações equivalentes, esta máxima é mais um exemplo de como o nada leva a coisa nenhuma.

Ninguém sabe o que significa verdadeiramente e, há que dizê-lo com frontalidade, não parece significar coisa nenhuma. Mais, parece ter atingido o Nirvana das expressões tolas, porque é tão falha de sentido que se torna até difícil de contra-argumentar. Um pouco à semelhança da frase atribuída a Mark Twain : “Nunca discutas com um idiota. Ele arrasta-te até ao nível dele e depois ganha-te em experiência”.

Matematicamente, ela por ela, traduz uma multiplicação, donde resulta ela ao quadrado. Onde é que isto nos leva? A lado nenhum, tal como a expressão original. A verdade é que nem sequer sabemos quem é ela, nem se serão duas elas ou apenas uma com distúrbios de personalidade. Ou sequer se o problema estará no receptor da mensagem que, toldado por doses excessivas de Alvarinho, perante uma ela já vê duas.

Há ainda a hipótese de poderem ser gémeas verdadeiras, caso em que ela por ela não haverá diferença significativa, especialmente, se forem suecas. No entanto, com elas nunca se sabe.

É IGUAL AO LITRO

Tecnicamente, podemos dizer que há apenas três coisas iguais ao litro: dez decilitros, cem centilitros e mil mililitros. Não, não venham dizer que um décimo de um decalitro é igual ao litro, porque eu disse três coisas, e um décimo de um decalitro é apenas parte de uma coisa. Aliás, quem duvida que vá às prateleiras dos vinhos e procure saber quanto é a capacidade das garrafas de litro que lá estão. Nem essas são iguais ao litro.

Em todas as outras situações temos uma expressão incorrectamente usada, logo, que não é verdadeira. Ou seja, mesmo conhecendo a particular aversão dos jovens a tudo o que seja vagamente relacionado com a matemática, insiste-se em estabelecer a confusão nas suas imberbes cabecinhas, dizendo que tudo e mais alguma coisa é igual ao litro.

Claro que alguns dirão “ah mas isso não é bem assim, aquilo só quer dizer que uma coisa não tem influência, que é indiferente e não sei quê...”, mas antes que o digam, eu respondo já – o tanas!
Temos de ser rigorosos. O não sei quê não é igual ao litro e se tal é indiferente, pois que o digam simplesmente, é indiferente! Porque o primeiro passo para criar uma geração alienada e desiludida é relativizar tudo, descendo o grau de indiferença ao nível do átomo, de modo a que tudo seja igual ao litro. É uma proposta de meditação filosófica que aqui fica, aguardando respostas.

11.3.12

E DEPOIS, MORRERAM AS VACAS E FICARAM OS BOIS

Uma expressão tão absurda quanto enigmática, pois ninguém sabe o que significa.

Começa, desde logo, por gozar com o genocídio da raça bovina, pois uma vez extintas as vacas e não podendo os bois procriar entre si, perpetuando a raça, esta extinguir-se-ia. Em segundo lugar, todo o boi só o é, existindo uma vaca em casa, que lhe dê conforto, amparo e um par de chifres. Sem isso, o boi sentir-se-á nu, não se podendo então propriamente dizer que seja um boi, antes será não mais do que um marrão.

Aqui chegados, vemos que não há nenhum propósito em responder à pergunta “e depois?”. Primeiro, porque a não ser que a conversa seja sobre bovinos, o contexto da resposta está completamente deslocado; segundo, porque permite uma sucessão ad eternum de consequências – porque quando morrerem as vacas e ficarem só os bois, os bezerros ficam orfãos. E depois os bois ficam viúvos. E depois tiveram de trabalhar e cuidar dos filhos ao mesmo tempo. E depois o dinheiro não chegava. E depois os bois fizeram biscates em touradas espanholas, vendendo o rabo e orelhas para sustentar a família. E depois um boi que venda o rabo corre o risco de não querer outra coisa e passar a ser tratado por vacôncio. E a escrever crónicas em revistas cor de rosa. E depois...enfim, não é preciso continuar pois não?

DORMIR COM UM OLHO FECHADO E OUTRO ABERTO

Esta expressão assenta numa pura impossibilidade morfológica, dado apenas os coelhos serem conhecidos por dormir com os olhos abertos. Estando ainda por surgir a figura super-heróica do homem-coelho, é então fácil de ver que o ser humano nunca poderá por em prática esta máxima.
Para mais, a sua utilização como sinónimo de semi-vigília também não é correcta, pois a situação mais semelhante a estar com um olho fechado e outro aberto é o caso dos pugilistas no fim de um combate, altura em que estarão tudo menos vigilantes.

Poderá dar-se o caso de se estar a piscar o olho ao sono, mas então isso não é dormir. Sendo impossível fazê-lo com qualquer olho dianteiro aberto, o caso agrava-se se estivermos a falar do olho traseiro, altura em que dormir com ele aberto proporcionará momentos de brisa inolvidável e perfumes da natureza. Pelo menos, daquela parte da natureza onde se instalam explorações de agro-pecuária.

Isto leva-nos a, pelo menos, considerar que, com as devidas alterações, esta expressão até poderia não ser completamente banida, se fosse adaptada para: dormir com dois olhos fechados e outro aberto. Obviamente, uma versão apenas acessível a pessoas com muito gás.

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA

Um simples raciocínio lógico-dedutivo é o suficiente para demonstrar a falácia desta expressão, utilizada como sinónimo de antigo, desde tempos imemoriais que já ninguém se lembra.

Vejamos: primeiro, é preciso uma senhora. Não pode ser uma criança, pois nesse caso seria uma menina, nem sequer uma adolescente. Estando também excluídas as de meia idade, que seriam simplesmente mulheres, resulta que, havendo uma senhora, necessariamente ela terá uma idade mais avançada. Passemos à “outra senhora” da expressão: sendo outra, não faz sentido que seja igual à primeira, caso contrário, essa serviria e não seria preciso outra. Tendo de ser diferente, e dado que concluímos que a primeira seria idosa, a “outra” terá de ser nova.

Logo, corolário lógico, o tempo da outra senhora, a nova, é um tempo recente, provando-se aqui por A mais B que o significado desta expressão é precisamente o oposto daquele que nos querem impingir!

25.2.12

DIZER COBRAS E LAGARTOS

Parece-me um bocado irrealista que, numa confusão de trânsito, dois condutores desatem a insultar-se mutuamente, em que um chama filho da fruta ao outro, o qual responde gritando cobras e lagartos! De facto é, mas é isto que nos querem fazer crer, ou seja, que o insulto e o dizer mal é sinónimo de cobras e lagartos. Não se percebe porquê.

Desde logo, parece consensual que seria muito mais ofensivo chamar lombrigas, lesmas ou protozoários. Por outro, dizer que a cobra é má não é verdade. Existem na Amazónia cobras extremamente carinhosas e que gostam de abraçar fortemente os outros seres vivos. Quanto aos lagartos, concedo que chamar lagarto a um lampião seja ofensivo, mas tirando esse caso específico, também não vejo como se possa ter associado o insulto aos lagartos, pois estes geralmente até têm uma língua bifurcada, o que dificultaria a articulação de ofensas, caso eles falassem. Poderia facilitar a soltura de perdigotos, mas de ofensas não creio.

Por último, gostaria mais uma vez de chamar a atenção para as questões de bom português, seja no antigo seja no novo acordo ortográfico e que muitas vezes constituem, quanto a mim, razão suficiente para banir estas expressões: as cobras e os lagartos não se dizem. Chamam-se.

DETRÁS DA ORELHA

É uma intenção parva a de nos quererem convencer que uma coisa boa está detrás da orelha. Desde logo porque, excluindo qualquer mutação genética, o sentido do paladar não está nas orelhas. E insistir no contrário apenas traz mais ignorância às cabeças confusas das nossas crianças ou dos concorrentes da Casa dos Segredos.

Seguidamente, ter seja o que for atrás da orelha revela muito pouca higiene, quer para a coisa em si, que pode apanhar alguma cera, quer para o ouvido que pode entupir. Já para não falar que, estando atrás da orelha, logo fora do campo de visão, é um exercício de adivinhação saber se a coisa lá está de facto ou não.

O rigor contextual também não é o melhor. Estando dois tipos a petiscar, diz um para o outro “epah, estes tremoços estão mesmo bons, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás da orelha”. Mas que parvoíce é esta, em que um tipo fala em tremoços e o outro responde em orelhas? Faça-se o simples teste do contraditório para verificar que esta expressão não é bi-unívoca, e portanto, não merecer credibilidade : “epah, estas orelhas de coentrada estão mesmo boas, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás dos tremoços”. Simplesmente patético.

DEITAR AS BARBAS DE MOLHO

Porque carga de água é que esta expressão é utilizada para traduzir cautela? Na verdade, o que o “sistema” esconde é que esta expressão é um convite à gerontofilia, ou seja, o abuso dos mais velhinhos.

Concretizando: para deitar as barbas de molho há que, primeiro, tê-las e, em segundo lugar, de um tamanho considerável para que se possam mergulhar no alguidar sem espetar também com as trombas no líquido. Ora umas barbas assim, tirando aquele benfiquista com um restaurante na Caparica, só as têm os velhos eremitas, os monges de Shaolin e um ou outro septuagenário avulso.

O perigo surge quando o avozinho coloca as barbas de molho, tendo portanto de se curvar sobre a bacia, logo, ficando em posição desfavorável, com a porta das traseiras à mercê de qualquer tarado. E esta situação pode ser um convite a uma grande amizade, mas nunca será uma posição de cautela, por muito que nos queiram enganar.

20.2.12

DEFENDER-SE COM UNHAS E DENTES

Utilizada frequentemente quando se pretende designar uma defesa forte, aguerrida, potencialmente viril, se virmos bem, designa apenas uma forma abichanada de defesa.

Quem geralmente se defende com as unhas e os dentes é a mulher (não raro acompanhados de puxões de cabelos e/ou gritinhos), pelo que nenhum macho que se preza se vai defender com unhadelas e dentadas. Homem que é homem tem, no máximo, uma unha saliente (a do dedo mindinho) que devido ao desvelo necessário para a manter, não serve para tarefas mais violentas do que tirar burriés da jaula, coçar as partes baixas ou tirar cera do orelhame.
Quanto aos dentes, assim de repente, a única forma que me ocorre para os utilizar em defesa seria em casos de moléstia sexual, onde a potencial vítima sorri, mostrando uma cremalheira completamente esboroada e com hálito de podridão superior, que faz fugir o agressor a sete pés.

Nestes tempos conturbados em que vivemos, uma actualização impõe-se, pelo que deveria alterar-se a expressão para “defender-se com ponta e mola” ou “defender-se com soqueira e moca de Rio Maior”.

19.2.12

DE MAIS A MAIS

À semelhança da anterior, esta expressão é de uma tão grande nulidade que, decerto, até está isenta de imposto. O correr das gerações deve com certeza ter-lhe feito perder palavras da versão original, porque a não ser num contexto do tipo “de Mais a Mais distam cerca de 10 kms”, não há forma de perceber isto...e mesmo assim, é preciso admitir que existam duas localidades com o nome Mais.

Mas o mais preocupante é que a utilização desta expressão visa substituir outra (Além do mais) que, só por si, também não quer dizer rigorosamente nada! Qualquer semelhança entre isto (uma vacuidade que substitui outra) e a legislação por vezes produzida na assembleia da república não pode ser mera coincidência. Deve haver mão de políticos nisto.

Não é preciso ser nenhum Platão nem nenhum Aristóteles, para saber empiricamente que além do mais, não existe nada. E se existe, será sempre mais do mesmo, porque se fosse menos, não estaria além do mais, mas sim aquém.

É tão simples que até dói! E de mais a mais, penso que não há mais nada a dizer sobre isto.

DAS DUAS, UMA

Esta expressão é tão vaga que será de incluir naquela categoria a que nós os académicos chamamos de “pois...”. De que duas estamos a falar? E porquê só duas, não poderão ser mais? De quais duas se fará a escolha? E porquê das duas só uma? Não podem ser as duas? Ou nenhuma? E se houver abstenção?

O problema é que toda esta vacuidade tem contornos filosóficos. Quer-se fazer crer que entre duas hipóteses, há sempre uma que é correcta e deve ser escolhida, pintando o mundo a preto e branco, em termos muito simplistas. Quem somos nós para dizer que uma opção é melhor do que outra? Uma opção é, de facto, melhor em si mesma, ou apenas o é enquanto imagem que dela concebemos? Nunca se esqueçam da alegoria da caverna, onde Platão nos ensinou a diferenciar entre a realidade e aquilo que vemos e imaginamos que é. Acredito que, tal como eu, possam existir no mundo duas ou três pessoas que não caíram a dormir nas aulas de filosofia, pelo que nos cabe a nós abrir os olhos da humanidade para estes embustes.

Está visto que na vida real o que há mais são tons cinzentos, nem carne nem peixe, não dá para optar assim tão linearmente. Tome-se, num exemplo rápido, o caso das eleições: quem olhar para o boletim de voto e disser “dos dois, um”, peca por defeito. Primeiro, porque eles são muito mais que dois e, segundo, porque todos juntos não valem um.

5.2.12

DAR UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA

Longe de esclarecer seja o que for, esta expressão mais não faz do que levantar interrogações. Dar uma quê? E ao dar outra, é outra da mesma espécie da primeira ou de espécie diferente? De que cravo estamos a falar? Da flor, do instrumento musical ou do furúnculo sebáceo que surge na pele oleosa?

Não se poderá dar mais do que uma no cravo? Se for um cravo rijo, será que não aguenta duas? Se a ferradura levar uma em vez de outra, será que ela aguenta? Fará alguma diferença se for a ferradura direita ou a esquerda? E porquê dar uma no cravo se ele não fez mal a ninguém? Devemos apenas dar ao cravo e à ferradura, ou podemos distribuir por outros objectos? Estamos a falar de dar, na óptica que é melhor do que receber, ou apenas em dar por vingança ou porque não se quer?

Apenas com estes poucos exemplos se vê que dificilmente esta expressão nos leva a alguma conclusão, dada a sua falta de objectividade. O que apenas se pode inferir daqui é que quem dá uma, dá duas, e como não há duas sem três, alguém terá de levar com a terceira, sem ser o cravo nem a ferradura.

Dão-se alvíssaras a quem descobrir o quê.

DAR COM A LÍNGUA NOS DENTES

É desaconselhável utilizar esta expressão como sinónimo de delator ou queixinhas, porque na sua verdadeira essência, dar com a língua nos dentes não produz conversa, mas sim estalinhos.

Desde logo, excluindo o caso da linguagem gestual que permite falar sem abrir a boca, qualquer linguagem obriga a dar com a língua nos dentes para produzir sons. Em segundo lugar, se denunciar ou confessar um crime fosse dar com a língua nos dentes, e aplicando o princípio da proporcionalidade, então quanto maior a confissão, maior teria de ser a força da língua na dentadura. Por exemplo, imagine-se a dificuldade que Isaltino Morais teria em conservar a dentadura, caso fosse julgado em tribunais a sério. Igualmente como prova da falácia desta expressão, poderá ser apontado o caso de Bibi, que mesmo após todas aquelas confissões no julgamento da Casa Pia mantém a sua cremalheira em apreciáveis condições de manutenção.

Por último, devemos ainda lembrar que o dar com a língua nos dentes é uma atitude pouco educada, equiparada a pôr a língua de fora ou a fazer bolhas com a boca, própria de crianças de tenra idade ou de Nenucos vendidos no Natal. No entanto, dado que toda a regra tem a sua excepção, também o dar com a língua nos dentes pode ser um acto de prazer, conforme documenta a imagem anexa. Porém, não tomemos isto como norma.

28.1.12

DAR BARRACA

A incorrecção desta expressão reside num factor muito simples da teoria económica: ninguém dá barracas!
Aliás, o que muitas vezes sucede é que estas habitações provisórias de contraplacado e chapas de zinco nascem como cogumelos sempre que se adivinha um plano de realojamento, para que os seus donos possam depois ganhar direito a um T1 novinho nos arrabaldes. Nestes casos, é a barraca que dá...uma casa.

Outra incongruência, é pretender dar a esta expressão um sinónimo de fazer asneira. Está bem que dar uma barraca não será o supra-sumo do bom gosto em matéria de prendas (a não ser que se ofereça a barraca a um cão), mas também não é preciso ofender. Se o ofertado não gostar, que deite fora, o que conta é a intenção e mandam os bons princípios que é melhor dar do que receber.

Aproveita-se também aqui a oportunidade para esclarecer que, em termos fiscais, dar barracas não está sujeito a imposto sucessório (até porque este já nem existe) nem a IMT, o que pode constituir uma boa forma de fugir à tributação na transmissão de património imobiliário, por exemplo, constituindo uma fundação e dando-lhe barracas.
Mais informações, contactar o Sousa Cintra.

CUSTAR OS OLHOS DA CARA

Senhores! Acaso achais fazer algum sentido que custar os olhos da cara seja sinónimo de caro? Porquê? Só porque são dois?

Qualquer cirurgião plástico de vão de escada poderá confirmar que uma simples lipoaspiração do nalguedo, um lifting aos papos dos olhos, endireitar um nariz ou acertar um sorriso podem ser mais caros do que uma intervenção aos olhos.

A outro nível, existem, por exemplo, certas pinturas pós-modernas que, por custarem os olhos da cara, os donos, ao ficarem sem os ditos, não precisam de ver as aberrações que compraram, o que até pode ser benéfico. Já para não falar de, por exemplo, "Portrait Of A One Eyed Man" de Van Gogh, que também só têm um olho e não é nada barato! (peço desculpa por esta referência de cultura erudita completamente despropositada, mas bastante útil para os apontadores do Google me encaminharem mais visitantes).

O que faz ainda menos sentido nesta expressão, é especificar que se tratam dos olhos da cara. Porque mais caro do que estes, é o outro, que se situa na parte final das costas, em que por vezes certas coisas chegam a custar o dito e mais oito tostões...

CRUZES, CANHOTO!

Vários historiadores advogam que a origem desta expressão terá ocorrido quando, algures na Idade Média, um cangalheiro mui atarefado por via da epidemia conhecida como peste negra, se viu obrigado a contratar vários ajudantes para dar despacho ao serviço, entre os quais, um de apelido Canhoto.

Contam os escritos que, um dia, estando a carreta já cheia de corpos defuntos e preparando-se para partir para o enterramento, o cangalheiro chegou-se à porta da loja gritando que ainda lhe faltavam cousas.

“Pois que não, meu senhor – atendeu o rapaz que respondia por Canhoto – aparelhei vossa besta mui cedo e pois que já carreguei as pás, as cordas, as velas e outrossim os podres defuntos de vossa senhoria. Que poderá faltar ainda?”
Ao que o cangalheiro terá respondido, irado: “Cruzes, Canhoto!...”

Em que ponto perdido no tempo terá ocorrido a distorção do significado desta expressão, para o actual entendimento de dito afugentador de espírito maligno ou má-sorte, é coisa que se desconhece.

9.1.12

COR DE BURRO QUANDO FOGE

Não houve, até hoje, alguma investigação credível do National Geographic a comprovar que este mamífero da família dos equídeos, de orelhas compridas, crina curta e geralmente de pelagem cinzenta ou acastanhada, mudasse a sua cor quando em movimento acelerado de fuga.
Então, porque raio surgiu esta disparatada expressão para designar uma cor esquisita? Em última análise, se o burro fosse suficientemente rápido, digamos, da velocidade da luz, a sua cor seriam todas, porque os diferentes comprimentos de radiação electromagnética visível convergiriam para reflectir todas as cores em conjunto e simultâneamente. Caro leitor, não é vergonha nenhuma confessar que nunca pensou em tal, mas eu também não me quero alargar em detalhes do sórdido mundo da física.

Na prática, o burro quando foge tem uma cor cinzento-acastanhada, no máximo, a atirar para o descorado se passar muito depressa em frente aos olhos do observador. Ora isto está muito longe da cor indefinida que nos querem fazer acreditar que esta expressão indica. Com que fins sórdidos, com que objectivos esconsos se divulgam estas ideias? Para já não existem respostas, mas isso não fará esmorecer a nossa luta em busca da verdade.

2.1.12

CONTAR COM O OVO NO CÚ DA GALINHA

Perante esta expressão, não se percebe afinal onde está o sinónimo de precipitação. Então se a saída do ovo é coisa certa, qual é o problema? Acaso depois de ele lá estar é suposto poder sair por outro lado?

É um facto que estando o ovo no cú da galinha e sendo esse um sítio deveras complicado para efectuar inspecções mais profundas, não sabemos quanto tempo demorará ele a sair. Mas sendo também um facto, científicamente comprovado, que as galinhas não sofrem de prisão de ventre, a conclusão é óbvia: o ovo vai sair por ali e a curto prazo, daí que entendo que contar com ele no referido local não é, em si mesmo, nenhum sinal de precipitação.

Outra imprecisão de ordem morfológico-anatómica é a de que o ovo, na fase de pré-saída, não está tecnicamente no cú da galinha. Se é para manter expressões sem qualquer sentido, ao menos que sejamos tecnicamente apurados, pelo que se deveria dizer “contar com o ovo no canal expulsatório pré-esfíncter, que conduz ao orifício natural traseiro do corpo, que dá pelo nome de ânus”.

COMPRAR GATO POR LEBRE

Caso de discriminação rácica evidente, que não se entende como ainda persiste na cultura popular nestes tempos do politicamente correcto. Desde logo, ao equivaler esta expressão a uma trapaça, deixa sub-entendido que as lebres são superiores aos gatos.

Pergunta-se, justamente, em quê?, já que tirando o facto de acompanharem bem com feijão branco ou serem deliciosas confeccionadas à caçador, elas não têm nenhum argumento para serem consideradas superiores aos gatos. Pelo contrário, os gatos são mais higiénicos, podem ser ensinados a obrar numa caixa de areia e ajudam os humanos a despachar a praga dos ratos.
Não conheço nenhuma lebre que faça isso, já que a sua única ocupação na vida, além de comer e dormir, é aumentar, com a colaboração da fêmea, a prole em mais dez ou quinze membros, com apenas dez segundos de esforço.

Mesmo na cultura é comprovado que esta máxima não tem razão de ser: o Garfield, o gato maltês ou o Gato das Botas são figuras que dispensam apresentações, ao passo que a lebre mais famosa, apenas o é por ter perdido uma corrida com uma tartaruga...e apenas porque assim nos contou La Fontaine, já que nem a Sport TV 4 se dignou a referenciar fosse o que fosse.

COMO QUEM NÃO QUER A COISA

Antes de mais, há que determinar de que coisa estamos a falar. Pode até dar-se o caso de que quem não quer a coisa, esteja a proceder bem. Por outro lado, podemos estar em presença de uma coisa valiosa que convém querer, pelo que enquanto não for esclarecida devidamente a natureza e a identidade da coisa em questão, se torna por demais imaturo e inconsciente fazer tal afirmação de forma categórica.
Importa também saber o que quer, quem não quer a coisa. Quer o quê? Coisa nenhuma? Mas a coisa nenhuma não é, em si mesmo, uma coisa? E ser como quem não quer a coisa, é ser como? Porque ao não querer a coisa, pode-se não querer de muitas e variadas formas e é preciso saber como, para podermos então ser como quem não quer a coisa. Acham isto complicado? Porque pensam que tanta gente se dedica à física quântica?

Se no meio disto tudo, o caro leitor, como quem não quer a coisa, já perdeu o fio à meada sobre o que aqui se discute, então o melhor é recomeçar do princípio. E no princípio, era o verbo...que não é uma coisa qualquer.