28.1.12

DAR BARRACA

A incorrecção desta expressão reside num factor muito simples da teoria económica: ninguém dá barracas!
Aliás, o que muitas vezes sucede é que estas habitações provisórias de contraplacado e chapas de zinco nascem como cogumelos sempre que se adivinha um plano de realojamento, para que os seus donos possam depois ganhar direito a um T1 novinho nos arrabaldes. Nestes casos, é a barraca que dá...uma casa.

Outra incongruência, é pretender dar a esta expressão um sinónimo de fazer asneira. Está bem que dar uma barraca não será o supra-sumo do bom gosto em matéria de prendas (a não ser que se ofereça a barraca a um cão), mas também não é preciso ofender. Se o ofertado não gostar, que deite fora, o que conta é a intenção e mandam os bons princípios que é melhor dar do que receber.

Aproveita-se também aqui a oportunidade para esclarecer que, em termos fiscais, dar barracas não está sujeito a imposto sucessório (até porque este já nem existe) nem a IMT, o que pode constituir uma boa forma de fugir à tributação na transmissão de património imobiliário, por exemplo, constituindo uma fundação e dando-lhe barracas.
Mais informações, contactar o Sousa Cintra.

CUSTAR OS OLHOS DA CARA

Senhores! Acaso achais fazer algum sentido que custar os olhos da cara seja sinónimo de caro? Porquê? Só porque são dois?

Qualquer cirurgião plástico de vão de escada poderá confirmar que uma simples lipoaspiração do nalguedo, um lifting aos papos dos olhos, endireitar um nariz ou acertar um sorriso podem ser mais caros do que uma intervenção aos olhos.

A outro nível, existem, por exemplo, certas pinturas pós-modernas que, por custarem os olhos da cara, os donos, ao ficarem sem os ditos, não precisam de ver as aberrações que compraram, o que até pode ser benéfico. Já para não falar de, por exemplo, "Portrait Of A One Eyed Man" de Van Gogh, que também só têm um olho e não é nada barato! (peço desculpa por esta referência de cultura erudita completamente despropositada, mas bastante útil para os apontadores do Google me encaminharem mais visitantes).

O que faz ainda menos sentido nesta expressão, é especificar que se tratam dos olhos da cara. Porque mais caro do que estes, é o outro, que se situa na parte final das costas, em que por vezes certas coisas chegam a custar o dito e mais oito tostões...

CRUZES, CANHOTO!

Vários historiadores advogam que a origem desta expressão terá ocorrido quando, algures na Idade Média, um cangalheiro mui atarefado por via da epidemia conhecida como peste negra, se viu obrigado a contratar vários ajudantes para dar despacho ao serviço, entre os quais, um de apelido Canhoto.

Contam os escritos que, um dia, estando a carreta já cheia de corpos defuntos e preparando-se para partir para o enterramento, o cangalheiro chegou-se à porta da loja gritando que ainda lhe faltavam cousas.

“Pois que não, meu senhor – atendeu o rapaz que respondia por Canhoto – aparelhei vossa besta mui cedo e pois que já carreguei as pás, as cordas, as velas e outrossim os podres defuntos de vossa senhoria. Que poderá faltar ainda?”
Ao que o cangalheiro terá respondido, irado: “Cruzes, Canhoto!...”

Em que ponto perdido no tempo terá ocorrido a distorção do significado desta expressão, para o actual entendimento de dito afugentador de espírito maligno ou má-sorte, é coisa que se desconhece.

9.1.12

COR DE BURRO QUANDO FOGE

Não houve, até hoje, alguma investigação credível do National Geographic a comprovar que este mamífero da família dos equídeos, de orelhas compridas, crina curta e geralmente de pelagem cinzenta ou acastanhada, mudasse a sua cor quando em movimento acelerado de fuga.
Então, porque raio surgiu esta disparatada expressão para designar uma cor esquisita? Em última análise, se o burro fosse suficientemente rápido, digamos, da velocidade da luz, a sua cor seriam todas, porque os diferentes comprimentos de radiação electromagnética visível convergiriam para reflectir todas as cores em conjunto e simultâneamente. Caro leitor, não é vergonha nenhuma confessar que nunca pensou em tal, mas eu também não me quero alargar em detalhes do sórdido mundo da física.

Na prática, o burro quando foge tem uma cor cinzento-acastanhada, no máximo, a atirar para o descorado se passar muito depressa em frente aos olhos do observador. Ora isto está muito longe da cor indefinida que nos querem fazer acreditar que esta expressão indica. Com que fins sórdidos, com que objectivos esconsos se divulgam estas ideias? Para já não existem respostas, mas isso não fará esmorecer a nossa luta em busca da verdade.

2.1.12

CONTAR COM O OVO NO CÚ DA GALINHA

Perante esta expressão, não se percebe afinal onde está o sinónimo de precipitação. Então se a saída do ovo é coisa certa, qual é o problema? Acaso depois de ele lá estar é suposto poder sair por outro lado?

É um facto que estando o ovo no cú da galinha e sendo esse um sítio deveras complicado para efectuar inspecções mais profundas, não sabemos quanto tempo demorará ele a sair. Mas sendo também um facto, científicamente comprovado, que as galinhas não sofrem de prisão de ventre, a conclusão é óbvia: o ovo vai sair por ali e a curto prazo, daí que entendo que contar com ele no referido local não é, em si mesmo, nenhum sinal de precipitação.

Outra imprecisão de ordem morfológico-anatómica é a de que o ovo, na fase de pré-saída, não está tecnicamente no cú da galinha. Se é para manter expressões sem qualquer sentido, ao menos que sejamos tecnicamente apurados, pelo que se deveria dizer “contar com o ovo no canal expulsatório pré-esfíncter, que conduz ao orifício natural traseiro do corpo, que dá pelo nome de ânus”.

COMPRAR GATO POR LEBRE

Caso de discriminação rácica evidente, que não se entende como ainda persiste na cultura popular nestes tempos do politicamente correcto. Desde logo, ao equivaler esta expressão a uma trapaça, deixa sub-entendido que as lebres são superiores aos gatos.

Pergunta-se, justamente, em quê?, já que tirando o facto de acompanharem bem com feijão branco ou serem deliciosas confeccionadas à caçador, elas não têm nenhum argumento para serem consideradas superiores aos gatos. Pelo contrário, os gatos são mais higiénicos, podem ser ensinados a obrar numa caixa de areia e ajudam os humanos a despachar a praga dos ratos.
Não conheço nenhuma lebre que faça isso, já que a sua única ocupação na vida, além de comer e dormir, é aumentar, com a colaboração da fêmea, a prole em mais dez ou quinze membros, com apenas dez segundos de esforço.

Mesmo na cultura é comprovado que esta máxima não tem razão de ser: o Garfield, o gato maltês ou o Gato das Botas são figuras que dispensam apresentações, ao passo que a lebre mais famosa, apenas o é por ter perdido uma corrida com uma tartaruga...e apenas porque assim nos contou La Fontaine, já que nem a Sport TV 4 se dignou a referenciar fosse o que fosse.

COMO QUEM NÃO QUER A COISA

Antes de mais, há que determinar de que coisa estamos a falar. Pode até dar-se o caso de que quem não quer a coisa, esteja a proceder bem. Por outro lado, podemos estar em presença de uma coisa valiosa que convém querer, pelo que enquanto não for esclarecida devidamente a natureza e a identidade da coisa em questão, se torna por demais imaturo e inconsciente fazer tal afirmação de forma categórica.
Importa também saber o que quer, quem não quer a coisa. Quer o quê? Coisa nenhuma? Mas a coisa nenhuma não é, em si mesmo, uma coisa? E ser como quem não quer a coisa, é ser como? Porque ao não querer a coisa, pode-se não querer de muitas e variadas formas e é preciso saber como, para podermos então ser como quem não quer a coisa. Acham isto complicado? Porque pensam que tanta gente se dedica à física quântica?

Se no meio disto tudo, o caro leitor, como quem não quer a coisa, já perdeu o fio à meada sobre o que aqui se discute, então o melhor é recomeçar do princípio. E no princípio, era o verbo...que não é uma coisa qualquer.