17.4.11

ANDAR COM OS TARECOS ÀS COSTAS

Há-de o leitor concordar comigo que esta é das expressões mais disparatadas inventadas pelo povo. Mas quem é que anda com os tarecos às costas? Pois se até as gatas que os dão à luz, preferem transportá-los na boca!...

Outro pormenor – duvido que alguém vá, voluntariamente, colocar os tarecos às costas sabendo que ao mínimo desequilíbrio os sacanas disparam aquelas unhas afiadas, cravando-as nas costas de um tipo, só para não caírem. E depois quando o sujeito chega a casa, tira a roupa para o banho, vem a mulher (já se sabe como elas desconfiam de tudo) e vai logo perguntar que arranhões são aqueles nas costas, o que é que “andastes” a fazer na rua até às tantas, que baton é aquele no colarinho da camisa, etc, etc... E o inocente apenas tem para dizer que andou com os tarecos às costas! Qual é a mulher que acredita?

Claro que se os tarecos forem tarecas e houver baton no colarinho, é bom nem sequer começar a argumentação...

ANDAR COM A PULGA ATRÁS DA ORELHA

Devo abrir aqui uma excepção para dizer que concordo com esta expressão, no sentido de que se está desconfiado. Estais espantados? Eu explico.

De facto, se se anda com uma pulga atrás da orelha, é sinal para desconfiar...quanto mais não seja, desconfia-se que o tipo não toma banho ou que mora num sítio imundo.
A razão de incluir aqui esta máxima é apenas pela sensação de intimidade que dela ressalta, isto é, dizer que o João anda com a pulga atrás da orelha é como dizer que o Joaquim anda com a Marisa atrás dele, ou seja, deixa logo perceber grandes intimidades entre o João e a pulga. Pouco higiénicas, de resto.

De pouco adianta trocar o verbo andar pelo verbo estar, como alguns fazem, porque se o João está com a pulga atrás da orelha, pode deduzir-se que estará com ela por interesse. E que raio de interesse pode um tipo ter numa pulga? Ainda por cima, atrás da orelha, onde sítio onde nem se consegue ver se ela se porta bem ou mal, o que em última análise, é mais um motivo para desconfiar.

ANDAR À MAMA

Outra expressão que, para grande desgosto nosso, não pode ser inteiramente tomada à letra. Pois se, andar aos caídos ou andar aos papéis designam efectivamente uma actividade, andar à mama não designa nada de nada!

Seja o que for que a alma iluminada que inventou esta expressão quisesse dizer com isto, andar à mama nunca poderia ser sinónimo de não fazer nada, isto porque, no que toca a mamas (e tirando as maternais) ninguém dá nada a ninguém. Logo, para ter mama (mesmo quando elas parecem oferecidas) só pagando, o que implica ter dinheiro, o que implica ter trabalho para o ganhar. Corolário: para ter mama é preciso trabalhar. Voilá!

E não vamos deixar de ter em mente que, tirando certas aberrações da natureza, ninguém nasce com uma só mama. Elas costumam vir aos pares. Donde resulta que a expressão nem é correcta nem está escrita em bom português, devendo ser “andar às mamas”.