19.5.12

ESTAR DEBAIXO DA LÍNGUA


Como qualquer odontologista poderá confirmar, debaixo da língua encontram-se apenas duas coisas: as papilas gustativas e as aftas. Partindo, claro, do princípio que a boca está lavada e sem os restos do frango assado do almoço.
Sendo assim, é razoavelmente disparatado dizer que está debaixo da língua aquilo que sabemos mas não nos lembramos. Se não nos lembrássemos das aftas, isso não constituiria por si só um problema, já que não dávamos por elas e, assim como assim, não passam de uma manifestação corporal, em que o nosso organismo oferece mais de si, pelo mesmo preço.
Quanto às papilas, mesmo que não nos lembrássemos delas, elas estão lá, debaixo da língua onde é suposto estarem e não se espera que saiam. De resto, não seria agradável ver andar por aí as pupilas gustativas de cada um, contando os segredos de tudo quanto nos entra pela boca. Nomeadamente, e não é meu intuito fazer discriminação, mas há que dizê-lo com frontalidade, as papilas de certas loiras deveriam ter muito que contar, como a nau catrineta.

ESTAR EM BANHO MARIA


Reza a lenda, que esta expressão é uma alusão à alquimista Maria, possivelmente irmã de Moisés, o líder hebreu que viveu entre os séculos XIII e XIV AC. Foi ela quem inventou o processo de cozinhar lentamente alguma coisa mergulhando um recipiente com essa substância em água a ferver. 

Bullshit, i say!
O que sabem as lendas sobre questões culinárias, se nem estrelar um ovo são capazes? Isto é apenas uma forma hábil de, por um lado, encher as cabeças dos nossos jovens com mais uma expressão ôca, e por outro, fazer habilmente uma referência sexista ao papel das mulheres no seu habitat natural: a cozinha. Claro – tínhamos um problema de cozedura, era preciso inventar-se algo. Foram chamar o chefe Silva? O Henrique Sá Pessoa? Anthony Bourdain? Olivier? Gordon Ramsay? Não. Foram buscar uma mulher, ainda por cima Maria, para reforçar a sua menor categoria social e assim proporcionar uma maior humilhação!!!


Ainda para mais, a posterior distorção desta expressão levou-a a ser utilizada em tudo quanto é sítio, desde a caracterização do processo judicial do Isaltino Morais até aos submarinos do Portas, passando pela estado do Jesus no comando do Benfica, quando o mais natural seria efectuar uma pequena correcção para tornar as coisas mais correctas e mais, digamos...apetecíveis, como, por exemplo, “dar banho à Maria” ou “estar no banho com a Maria”.
Isso sim, era coisa de valor.

ESTAR A METER ÁGUA


Se estivermos a fazer vinho, meter água é uma aldrabice. Se estivermos a falar de um navio, é sinónimo de afundamento. Se estivermos a fazer sopa, é um passo necessário. Para um bombeiro, meter água é a sua profissão. Numa estação de serviço, meter água no radiador é sinal de cuidar do automóvel. Se o telhado meter água, o senhorio mete-se em despesas.
Poderíamos seguir indefinidamente e não encontraríamos explicação para o sinónimo de fazer asneira, que se costuma dar a esta expressão. Ok, descontando o Titanic e o Costa Concordia, onde a culpa foi dos comandantes que aparentemente tinham mais o que fazer do que dirigir o navio e olhar para a frente. Sendo assim, porque diabo surgiu esta associação de ideias? Será assim tão difícil ver que isto está errado? Já para não falar na questão linguística, pois a água despeja-se, transvasa-se, introduz-se, verte-se, entorna-se. Não se mete.
Basta pensarmos um bocadinho: se a asneira fosse água, alguém me explica como é que este país ainda estaria à tona da dita? Para mais sendo nós uma jangada de pedra, pelo menos pelas teorias do Saramago. S.Bento não estaria já a fazer companhia à cidade perdida da Atlântida? Impossível.