29.4.12

ESTAR A AFIAR O DENTE


Mais uma expressão a proibir, por incitamento às más práticas junto da juventude. Em termos odontológicos, afiar o dente é desaconselhável pois, além de desgastar o esmalte, podendo facilitar a propagação de cáries, não é de desdenhar o irritante barulho da lima a afiar o dente, algo tão impressionante como o arrastar de unhas no quadro negro ou o deslizar do garfo no fundo do prato de porcelana chinesa (da loja do chinês).


Acresce que, a utilização desta expressão como sinónimo de se estar a preparar para comer algo, está errada. Nem o homem de Cro-Magnon afiava os caninos para suprir a falta de garfos e facas no ataque ao bife da vazia, quanto mais hoje em dia, onde além de todos os talheres obrigatórios constantes dos livros da Paula Bobone, o homem moderno nem precisa de mastigar muito a sua carne, seja porque as hormonas a deixaram tenra, seja porque já vem pré-mastigada em hamburgueres e outras porcarias do género.

Aliás, na temática afiar dentes, não me ocorre outro nome senão o de Lestat de Lioncourt (não sabem quem é? Consultem mais a Wikipédia) que, para começar, não era humano, nem servia de exemplo para ninguém. Ele sim, poderia ter necessidade de recorrer ao acto de afiar o instrumento de trabalho caso não optasse sempre por pescoços mais tenrinhos o que, diga-se, seria uma parvoíce não fazer, dada a escolha que tinha.

ESTA VIDA SÃO DOIS DIAS

Eis um paradoxo matemático-religioso que levanta mais questões do que fornece respostas. Pois não foi Deus (favor, não ler com sotaque brasileiro) que durante seis dias construiu o universo, descansando ao sétimo? Se esta vida são dois dias, o que se passou nos outros cinco? Deus fez horas extraordinárias devidamente remuneradas ou trabalhou ilegalmente? Sendo a vida dois dias, em que dia calha a folga? Coincide com o fim de semana? E quando se faz uma ponte, para que servem três dias ou mais de descanso, se a vida são apenas dois?
Dever-se-á também atender que os dois dias que compõem esta vida (segundo esta destrambelhada expressão) constituem indirectamente uma negação dos ideais presentes no Manifesto do Partido Comunista redigido por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848 e, portanto, esta expressão poderá ser considerada reaccionária. Porquê? Porque é do domínio público que a maior organização política e cultural do nosso país realiza-se na Quinta da Atalaia, Seixal e tem a duração de três dias – a Festa do Avante! Ora, se esta vida fossem apenas dois dias, das duas uma: ou o PC andava a desperdiçar recursos numa festa de três dias em que no terceiro já não havia audiência para pagar bilhete ou, se é apenas ESTA vida que são dois dias, então ao terceiro da Festa do Avante, o público já estaria NOUTRA vida, o que por si, remete para questões de crenças religiosas em teorias de reencarnação, o que, dado estarmos a falar de comunistas, é impossível, pois a religião é o ópio do povo (já o dizia Karl Marx) e isso indicaria que todos os comunistas andariam drogados. Conclusão, como abundantemente temos demonstrado ao longo desta obra, também esta expressão deveria ser banida do léxico nacional, a bem da nossa sanidade mental. E se o dano não é maior, demos graças a alguma entidade suprema por nos ter feito tão saudavelmente amorfos que poucos utilizam o seu intelecto para pensar nestas prementes questões, categoria em que o escriba, desgraçadamente, se inclui.

ESSA NÃO LEMBRA AO DIABO

Esta equivalente de ideia inusitada, traz em si mesma uma contradição assinalável: pois se nem ao diabo ela lembra, como foi possível ter esta ideia?
Em segundo lugar, o facto de não lembrar ao diabo pode apenas significar que o mafarrico sofre de Alzheimer em estado avançado, esquecendo-se de tudo, inclusive do seu próprio nome. Ou talvez não. Talvez o diabo simplesmente não se tenha lembrado por andar stressado com excesso de trabalho, porque isto já se sabe, um só diabo para administrar todo o mal do mundo, agências de rating incluídas, não deixa grande tempo para o lazer. Um diabo também não se pode lembrar de tudo, pois se tivesse uma grande memória não era diabo, era elefante. E mesmo que essa possa não lembrar ao diabo, poderá eventualmente lembrar a mais alguém. Há muita gente com cabeça para pensar (ouvi dizer, não tenho saído muito à rua), donde dizer que algo não lembra ao diabo não quer forçosamente dizer que não lembre a mais ninguém. Que diabo! Sempre somos não sei quantos biliões! E mais seis milhões de benfiquistas.