19.2.12

DAS DUAS, UMA

Esta expressão é tão vaga que será de incluir naquela categoria a que nós os académicos chamamos de “pois...”. De que duas estamos a falar? E porquê só duas, não poderão ser mais? De quais duas se fará a escolha? E porquê das duas só uma? Não podem ser as duas? Ou nenhuma? E se houver abstenção?

O problema é que toda esta vacuidade tem contornos filosóficos. Quer-se fazer crer que entre duas hipóteses, há sempre uma que é correcta e deve ser escolhida, pintando o mundo a preto e branco, em termos muito simplistas. Quem somos nós para dizer que uma opção é melhor do que outra? Uma opção é, de facto, melhor em si mesma, ou apenas o é enquanto imagem que dela concebemos? Nunca se esqueçam da alegoria da caverna, onde Platão nos ensinou a diferenciar entre a realidade e aquilo que vemos e imaginamos que é. Acredito que, tal como eu, possam existir no mundo duas ou três pessoas que não caíram a dormir nas aulas de filosofia, pelo que nos cabe a nós abrir os olhos da humanidade para estes embustes.

Está visto que na vida real o que há mais são tons cinzentos, nem carne nem peixe, não dá para optar assim tão linearmente. Tome-se, num exemplo rápido, o caso das eleições: quem olhar para o boletim de voto e disser “dos dois, um”, peca por defeito. Primeiro, porque eles são muito mais que dois e, segundo, porque todos juntos não valem um.