Parece-me um bocado irrealista que, numa confusão de trânsito, dois condutores desatem a insultar-se mutuamente, em que um chama filho da fruta ao outro, o qual responde gritando cobras e lagartos! De facto é, mas é isto que nos querem fazer crer, ou seja, que o insulto e o dizer mal é sinónimo de cobras e lagartos. Não se percebe porquê.
Desde logo, parece consensual que seria muito mais ofensivo chamar lombrigas, lesmas ou protozoários. Por outro, dizer que a cobra é má não é verdade. Existem na Amazónia cobras extremamente carinhosas e que gostam de abraçar fortemente os outros seres vivos. Quanto aos lagartos, concedo que chamar lagarto a um lampião seja ofensivo, mas tirando esse caso específico, também não vejo como se possa ter associado o insulto aos lagartos, pois estes geralmente até têm uma língua bifurcada, o que dificultaria a articulação de ofensas, caso eles falassem. Poderia facilitar a soltura de perdigotos, mas de ofensas não creio.
Por último, gostaria mais uma vez de chamar a atenção para as questões de bom português, seja no antigo seja no novo acordo ortográfico e que muitas vezes constituem, quanto a mim, razão suficiente para banir estas expressões: as cobras e os lagartos não se dizem. Chamam-se.
25.2.12
DETRÁS DA ORELHA
É uma intenção parva a de nos quererem convencer que uma coisa boa está detrás da orelha. Desde logo porque, excluindo qualquer mutação genética, o sentido do paladar não está nas orelhas. E insistir no contrário apenas traz mais ignorância às cabeças confusas das nossas crianças ou dos concorrentes da Casa dos Segredos.
Seguidamente, ter seja o que for atrás da orelha revela muito pouca higiene, quer para a coisa em si, que pode apanhar alguma cera, quer para o ouvido que pode entupir. Já para não falar que, estando atrás da orelha, logo fora do campo de visão, é um exercício de adivinhação saber se a coisa lá está de facto ou não.
O rigor contextual também não é o melhor. Estando dois tipos a petiscar, diz um para o outro “epah, estes tremoços estão mesmo bons, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás da orelha”. Mas que parvoíce é esta, em que um tipo fala em tremoços e o outro responde em orelhas? Faça-se o simples teste do contraditório para verificar que esta expressão não é bi-unívoca, e portanto, não merecer credibilidade : “epah, estas orelhas de coentrada estão mesmo boas, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás dos tremoços”. Simplesmente patético.
Seguidamente, ter seja o que for atrás da orelha revela muito pouca higiene, quer para a coisa em si, que pode apanhar alguma cera, quer para o ouvido que pode entupir. Já para não falar que, estando atrás da orelha, logo fora do campo de visão, é um exercício de adivinhação saber se a coisa lá está de facto ou não.
O rigor contextual também não é o melhor. Estando dois tipos a petiscar, diz um para o outro “epah, estes tremoços estão mesmo bons, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás da orelha”. Mas que parvoíce é esta, em que um tipo fala em tremoços e o outro responde em orelhas? Faça-se o simples teste do contraditório para verificar que esta expressão não é bi-unívoca, e portanto, não merecer credibilidade : “epah, estas orelhas de coentrada estão mesmo boas, não estão?”, ao que o outro responde, “Estão detrás dos tremoços”. Simplesmente patético.
DEITAR AS BARBAS DE MOLHO
Porque carga de água é que esta expressão é utilizada para traduzir cautela? Na verdade, o que o “sistema” esconde é que esta expressão é um convite à gerontofilia, ou seja, o abuso dos mais velhinhos.
Concretizando: para deitar as barbas de molho há que, primeiro, tê-las e, em segundo lugar, de um tamanho considerável para que se possam mergulhar no alguidar sem espetar também com as trombas no líquido. Ora umas barbas assim, tirando aquele benfiquista com um restaurante na Caparica, só as têm os velhos eremitas, os monges de Shaolin e um ou outro septuagenário avulso.
O perigo surge quando o avozinho coloca as barbas de molho, tendo portanto de se curvar sobre a bacia, logo, ficando em posição desfavorável, com a porta das traseiras à mercê de qualquer tarado. E esta situação pode ser um convite a uma grande amizade, mas nunca será uma posição de cautela, por muito que nos queiram enganar.
Concretizando: para deitar as barbas de molho há que, primeiro, tê-las e, em segundo lugar, de um tamanho considerável para que se possam mergulhar no alguidar sem espetar também com as trombas no líquido. Ora umas barbas assim, tirando aquele benfiquista com um restaurante na Caparica, só as têm os velhos eremitas, os monges de Shaolin e um ou outro septuagenário avulso.
O perigo surge quando o avozinho coloca as barbas de molho, tendo portanto de se curvar sobre a bacia, logo, ficando em posição desfavorável, com a porta das traseiras à mercê de qualquer tarado. E esta situação pode ser um convite a uma grande amizade, mas nunca será uma posição de cautela, por muito que nos queiram enganar.
20.2.12
DEFENDER-SE COM UNHAS E DENTES
Utilizada frequentemente quando se pretende designar uma defesa forte, aguerrida, potencialmente viril, se virmos bem, designa apenas uma forma abichanada de defesa.
Quem geralmente se defende com as unhas e os dentes é a mulher (não raro acompanhados de puxões de cabelos e/ou gritinhos), pelo que nenhum macho que se preza se vai defender com unhadelas e dentadas. Homem que é homem tem, no máximo, uma unha saliente (a do dedo mindinho) que devido ao desvelo necessário para a manter, não serve para tarefas mais violentas do que tirar burriés da jaula, coçar as partes baixas ou tirar cera do orelhame.
Quanto aos dentes, assim de repente, a única forma que me ocorre para os utilizar em defesa seria em casos de moléstia sexual, onde a potencial vítima sorri, mostrando uma cremalheira completamente esboroada e com hálito de podridão superior, que faz fugir o agressor a sete pés.
Nestes tempos conturbados em que vivemos, uma actualização impõe-se, pelo que deveria alterar-se a expressão para “defender-se com ponta e mola” ou “defender-se com soqueira e moca de Rio Maior”.
Quem geralmente se defende com as unhas e os dentes é a mulher (não raro acompanhados de puxões de cabelos e/ou gritinhos), pelo que nenhum macho que se preza se vai defender com unhadelas e dentadas. Homem que é homem tem, no máximo, uma unha saliente (a do dedo mindinho) que devido ao desvelo necessário para a manter, não serve para tarefas mais violentas do que tirar burriés da jaula, coçar as partes baixas ou tirar cera do orelhame.
Quanto aos dentes, assim de repente, a única forma que me ocorre para os utilizar em defesa seria em casos de moléstia sexual, onde a potencial vítima sorri, mostrando uma cremalheira completamente esboroada e com hálito de podridão superior, que faz fugir o agressor a sete pés.
Nestes tempos conturbados em que vivemos, uma actualização impõe-se, pelo que deveria alterar-se a expressão para “defender-se com ponta e mola” ou “defender-se com soqueira e moca de Rio Maior”.
19.2.12
DE MAIS A MAIS
À semelhança da anterior, esta expressão é de uma tão grande nulidade que, decerto, até está isenta de imposto. O correr das gerações deve com certeza ter-lhe feito perder palavras da versão original, porque a não ser num contexto do tipo “de Mais a Mais distam cerca de 10 kms”, não há forma de perceber isto...e mesmo assim, é preciso admitir que existam duas localidades com o nome Mais.
Mas o mais preocupante é que a utilização desta expressão visa substituir outra (Além do mais) que, só por si, também não quer dizer rigorosamente nada! Qualquer semelhança entre isto (uma vacuidade que substitui outra) e a legislação por vezes produzida na assembleia da república não pode ser mera coincidência. Deve haver mão de políticos nisto.
Não é preciso ser nenhum Platão nem nenhum Aristóteles, para saber empiricamente que além do mais, não existe nada. E se existe, será sempre mais do mesmo, porque se fosse menos, não estaria além do mais, mas sim aquém.
É tão simples que até dói! E de mais a mais, penso que não há mais nada a dizer sobre isto.
Mas o mais preocupante é que a utilização desta expressão visa substituir outra (Além do mais) que, só por si, também não quer dizer rigorosamente nada! Qualquer semelhança entre isto (uma vacuidade que substitui outra) e a legislação por vezes produzida na assembleia da república não pode ser mera coincidência. Deve haver mão de políticos nisto.
Não é preciso ser nenhum Platão nem nenhum Aristóteles, para saber empiricamente que além do mais, não existe nada. E se existe, será sempre mais do mesmo, porque se fosse menos, não estaria além do mais, mas sim aquém.
É tão simples que até dói! E de mais a mais, penso que não há mais nada a dizer sobre isto.
DAS DUAS, UMA
Esta expressão é tão vaga que será de incluir naquela categoria a que nós os académicos chamamos de “pois...”. De que duas estamos a falar? E porquê só duas, não poderão ser mais? De quais duas se fará a escolha? E porquê das duas só uma? Não podem ser as duas? Ou nenhuma? E se houver abstenção?
O problema é que toda esta vacuidade tem contornos filosóficos. Quer-se fazer crer que entre duas hipóteses, há sempre uma que é correcta e deve ser escolhida, pintando o mundo a preto e branco, em termos muito simplistas. Quem somos nós para dizer que uma opção é melhor do que outra? Uma opção é, de facto, melhor em si mesma, ou apenas o é enquanto imagem que dela concebemos? Nunca se esqueçam da alegoria da caverna, onde Platão nos ensinou a diferenciar entre a realidade e aquilo que vemos e imaginamos que é. Acredito que, tal como eu, possam existir no mundo duas ou três pessoas que não caíram a dormir nas aulas de filosofia, pelo que nos cabe a nós abrir os olhos da humanidade para estes embustes.
Está visto que na vida real o que há mais são tons cinzentos, nem carne nem peixe, não dá para optar assim tão linearmente. Tome-se, num exemplo rápido, o caso das eleições: quem olhar para o boletim de voto e disser “dos dois, um”, peca por defeito. Primeiro, porque eles são muito mais que dois e, segundo, porque todos juntos não valem um.
O problema é que toda esta vacuidade tem contornos filosóficos. Quer-se fazer crer que entre duas hipóteses, há sempre uma que é correcta e deve ser escolhida, pintando o mundo a preto e branco, em termos muito simplistas. Quem somos nós para dizer que uma opção é melhor do que outra? Uma opção é, de facto, melhor em si mesma, ou apenas o é enquanto imagem que dela concebemos? Nunca se esqueçam da alegoria da caverna, onde Platão nos ensinou a diferenciar entre a realidade e aquilo que vemos e imaginamos que é. Acredito que, tal como eu, possam existir no mundo duas ou três pessoas que não caíram a dormir nas aulas de filosofia, pelo que nos cabe a nós abrir os olhos da humanidade para estes embustes.
Está visto que na vida real o que há mais são tons cinzentos, nem carne nem peixe, não dá para optar assim tão linearmente. Tome-se, num exemplo rápido, o caso das eleições: quem olhar para o boletim de voto e disser “dos dois, um”, peca por defeito. Primeiro, porque eles são muito mais que dois e, segundo, porque todos juntos não valem um.
5.2.12
DAR UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA
Longe de esclarecer seja o que for, esta expressão mais não faz do que levantar interrogações. Dar uma quê? E ao dar outra, é outra da mesma espécie da primeira ou de espécie diferente? De que cravo estamos a falar? Da flor, do instrumento musical ou do furúnculo sebáceo que surge na pele oleosa?
Não se poderá dar mais do que uma no cravo? Se for um cravo rijo, será que não aguenta duas? Se a ferradura levar uma em vez de outra, será que ela aguenta? Fará alguma diferença se for a ferradura direita ou a esquerda? E porquê dar uma no cravo se ele não fez mal a ninguém? Devemos apenas dar ao cravo e à ferradura, ou podemos distribuir por outros objectos? Estamos a falar de dar, na óptica que é melhor do que receber, ou apenas em dar por vingança ou porque não se quer?
Apenas com estes poucos exemplos se vê que dificilmente esta expressão nos leva a alguma conclusão, dada a sua falta de objectividade. O que apenas se pode inferir daqui é que quem dá uma, dá duas, e como não há duas sem três, alguém terá de levar com a terceira, sem ser o cravo nem a ferradura.
Dão-se alvíssaras a quem descobrir o quê.
Não se poderá dar mais do que uma no cravo? Se for um cravo rijo, será que não aguenta duas? Se a ferradura levar uma em vez de outra, será que ela aguenta? Fará alguma diferença se for a ferradura direita ou a esquerda? E porquê dar uma no cravo se ele não fez mal a ninguém? Devemos apenas dar ao cravo e à ferradura, ou podemos distribuir por outros objectos? Estamos a falar de dar, na óptica que é melhor do que receber, ou apenas em dar por vingança ou porque não se quer?
Apenas com estes poucos exemplos se vê que dificilmente esta expressão nos leva a alguma conclusão, dada a sua falta de objectividade. O que apenas se pode inferir daqui é que quem dá uma, dá duas, e como não há duas sem três, alguém terá de levar com a terceira, sem ser o cravo nem a ferradura.
Dão-se alvíssaras a quem descobrir o quê.
DAR COM A LÍNGUA NOS DENTES
É desaconselhável utilizar esta expressão como sinónimo de delator ou queixinhas, porque na sua verdadeira essência, dar com a língua nos dentes não produz conversa, mas sim estalinhos.
Desde logo, excluindo o caso da linguagem gestual que permite falar sem abrir a boca, qualquer linguagem obriga a dar com a língua nos dentes para produzir sons. Em segundo lugar, se denunciar ou confessar um crime fosse dar com a língua nos dentes, e aplicando o princípio da proporcionalidade, então quanto maior a confissão, maior teria de ser a força da língua na dentadura. Por exemplo, imagine-se a dificuldade que Isaltino Morais teria em conservar a dentadura, caso fosse julgado em tribunais a sério. Igualmente como prova da falácia desta expressão, poderá ser apontado o caso de Bibi, que mesmo após todas aquelas confissões no julgamento da Casa Pia mantém a sua cremalheira em apreciáveis condições de manutenção.
Por último, devemos ainda lembrar que o dar com a língua nos dentes é uma atitude pouco educada, equiparada a pôr a língua de fora ou a fazer bolhas com a boca, própria de crianças de tenra idade ou de Nenucos vendidos no Natal. No entanto, dado que toda a regra tem a sua excepção, também o dar com a língua nos dentes pode ser um acto de prazer, conforme documenta a imagem anexa. Porém, não tomemos isto como norma.
Desde logo, excluindo o caso da linguagem gestual que permite falar sem abrir a boca, qualquer linguagem obriga a dar com a língua nos dentes para produzir sons. Em segundo lugar, se denunciar ou confessar um crime fosse dar com a língua nos dentes, e aplicando o princípio da proporcionalidade, então quanto maior a confissão, maior teria de ser a força da língua na dentadura. Por exemplo, imagine-se a dificuldade que Isaltino Morais teria em conservar a dentadura, caso fosse julgado em tribunais a sério. Igualmente como prova da falácia desta expressão, poderá ser apontado o caso de Bibi, que mesmo após todas aquelas confissões no julgamento da Casa Pia mantém a sua cremalheira em apreciáveis condições de manutenção.
Por último, devemos ainda lembrar que o dar com a língua nos dentes é uma atitude pouco educada, equiparada a pôr a língua de fora ou a fazer bolhas com a boca, própria de crianças de tenra idade ou de Nenucos vendidos no Natal. No entanto, dado que toda a regra tem a sua excepção, também o dar com a língua nos dentes pode ser um acto de prazer, conforme documenta a imagem anexa. Porém, não tomemos isto como norma.
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