Impõe-se perguntar: mas não chegou, porquê? A cozinha é muito longe? É à prova de som?
Desde logo o senso comum contradiz esta expressão: por um lado, se as conversas são como as cerejas, então o lugar mais natural para elas estarem será na cozinha; por outro, conversa é sinónimo de cavaqueira, palavreado, conversação, também conhecida como a nobre arte de dar à língua, desde tempos imemoriais praticada pelas mulheres, cujo lugar natural de exercício de cidadania é, lá está!, a cozinha. Chegamos assim à conclusão oposta daquela que a expressão pretende fazer crer, ou seja, a conversa já está na cozinha!
De resto, e por exclusão de partes, verifica-se que a conversa não deverá estar noutras divisões da casa: no quarto de dormir serão de adoptar os gemidos/gritos; na casa-de-banho usam-se os sons guturais condizentes com a disposição do intestino ou, quando muito, canta-se no chuveiro; na sala de estar, telenovelas e jogos do Benfica não admitem conversas frente ao televisor. Resta a cozinha.
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