Mas será que ninguém vê a vacuidade desta expressão?
A quem será que interessa saber como morreu o burro, senão ao médico legista? Em que é que essa informação contribui mais para a felicidade de um cidadão do que, por exemplo, saber a taxa de fecundidade dos organismos unicelulares?
Segundo ponto: os burros não possuem formas específicas de morte só pelo facto de serem burros. Tal como os humanos, e há casos de espécimes que acumulam as duas naturezas, um burro tanto pode morrer a pensar, como a dormir, a comer ou a conduzir em contra-mão no IP5.
Terceira questão: esta é mais de carácter filosófico mas, será mais digno um burro que, apesar de o ser, morre a pensar ou um pensador que morre por fazer uma burrice? Esta é uma questão que deixo à meditação do leitor, para que se perceba o quanto estas expressões, ditas populares, podem ser enganadoras no seu sentido. Se não servir à meditação, espera-se mesmo assim que esta questão sirva como indutora de sono para quem não o tem.
27.2.11
A MONTANHA PARIU UM RATO
Sendo as “pedras parideiras”, comuns na serra da Lousã, o único fenómeno geológico cientificamente comprovado que faz nascer pedras, esta expressão é uma clara fraude imposta às nossas crianças.
Veja-se como ela é absurda, até de um ponto de vista matemático: diz-se que a montanha pariu UM rato e não uma ninhada, que é a forma natural de nascimento destes roedores. Logo, para parir uma quantidade de ratos suficiente para abastecer os laboratórios de investigação de todo o mundo, imagine-se a cordilheira de montanhas que não seria necessário! Outra questão por explicar: se a montanha pare um rato, quem ou quê pare as ratas?
Para lá de todo este embuste linguístico, pretende-se também fazer crer que a expressão é sinónimo de algo que promete muito, acabando por produzir pouco resultado. Ora, um rato, não é sinónimo de pouco – veja-se o caso do rato Mickey, hoje por hoje, uma das maiores fortunas da indústria do entretenimento.
Veja-se como ela é absurda, até de um ponto de vista matemático: diz-se que a montanha pariu UM rato e não uma ninhada, que é a forma natural de nascimento destes roedores. Logo, para parir uma quantidade de ratos suficiente para abastecer os laboratórios de investigação de todo o mundo, imagine-se a cordilheira de montanhas que não seria necessário! Outra questão por explicar: se a montanha pare um rato, quem ou quê pare as ratas?
Para lá de todo este embuste linguístico, pretende-se também fazer crer que a expressão é sinónimo de algo que promete muito, acabando por produzir pouco resultado. Ora, um rato, não é sinónimo de pouco – veja-se o caso do rato Mickey, hoje por hoje, uma das maiores fortunas da indústria do entretenimento.
20.2.11
A CONVERSA NÃO CHEGOU À COZINHA
Impõe-se perguntar: mas não chegou, porquê? A cozinha é muito longe? É à prova de som?
Desde logo o senso comum contradiz esta expressão: por um lado, se as conversas são como as cerejas, então o lugar mais natural para elas estarem será na cozinha; por outro, conversa é sinónimo de cavaqueira, palavreado, conversação, também conhecida como a nobre arte de dar à língua, desde tempos imemoriais praticada pelas mulheres, cujo lugar natural de exercício de cidadania é, lá está!, a cozinha. Chegamos assim à conclusão oposta daquela que a expressão pretende fazer crer, ou seja, a conversa já está na cozinha!
De resto, e por exclusão de partes, verifica-se que a conversa não deverá estar noutras divisões da casa: no quarto de dormir serão de adoptar os gemidos/gritos; na casa-de-banho usam-se os sons guturais condizentes com a disposição do intestino ou, quando muito, canta-se no chuveiro; na sala de estar, telenovelas e jogos do Benfica não admitem conversas frente ao televisor. Resta a cozinha.
Desde logo o senso comum contradiz esta expressão: por um lado, se as conversas são como as cerejas, então o lugar mais natural para elas estarem será na cozinha; por outro, conversa é sinónimo de cavaqueira, palavreado, conversação, também conhecida como a nobre arte de dar à língua, desde tempos imemoriais praticada pelas mulheres, cujo lugar natural de exercício de cidadania é, lá está!, a cozinha. Chegamos assim à conclusão oposta daquela que a expressão pretende fazer crer, ou seja, a conversa já está na cozinha!
De resto, e por exclusão de partes, verifica-se que a conversa não deverá estar noutras divisões da casa: no quarto de dormir serão de adoptar os gemidos/gritos; na casa-de-banho usam-se os sons guturais condizentes com a disposição do intestino ou, quando muito, canta-se no chuveiro; na sala de estar, telenovelas e jogos do Benfica não admitem conversas frente ao televisor. Resta a cozinha.
A COISA ESTÁ A FICAR (FEIA/PRETA)
Esta expressão é tão falha de objectividade que deveria, desde logo, ser banida da língua portuguesa.
Será que a coisa fica preta por falta de higiene? Será que dizer que a coisa fica preta, como sinónimo de algo que vai mal, não denota uma tendência racista? Tudo o que é preto é mau? Então e o Eusébio? E o bolo do caco da Madeira?
Por outro lado, se a coisa está a ficar feia isso pode apenas ser um sinal de envelhecimento. É consensual que, com o avançar da idade, não vamos ficando mais bonitos, o que tornaria esta expressão numa máxima de La Palice, ou seja, a constatação do óbvio, não tendo valor de per si e não valendo mais do que um bordão de conversa mole, se quisermos, uma muleta, senão mesmo, uma canadiana.
Sendo canadiana, elimine-se pois da língua portuguesa.
Será que a coisa fica preta por falta de higiene? Será que dizer que a coisa fica preta, como sinónimo de algo que vai mal, não denota uma tendência racista? Tudo o que é preto é mau? Então e o Eusébio? E o bolo do caco da Madeira?
Por outro lado, se a coisa está a ficar feia isso pode apenas ser um sinal de envelhecimento. É consensual que, com o avançar da idade, não vamos ficando mais bonitos, o que tornaria esta expressão numa máxima de La Palice, ou seja, a constatação do óbvio, não tendo valor de per si e não valendo mais do que um bordão de conversa mole, se quisermos, uma muleta, senão mesmo, uma canadiana.
Sendo canadiana, elimine-se pois da língua portuguesa.
* EDITORIAL
Caro cibernauta,
Já alguma vez pensou naquelas expressões que se dizem diariamente sem, no entanto, ter consciência daquilo que está a dizer?
Se não pensou, devia. Porque geralmente, estará a dizer asneiras.
Felizmente, decidi elucidá-lo para que mais ninguém o chame de asno, dissimuladamente. Veja-me como um paladino da causa "anti-expressões idiomáticas", que mais não são do que versões ignóbeis e preguiçosas de uma afirmação, que apenas revelam a falta de esforço intelectual de quem as profere.
Enfim, poderão também significar outras coisas, mas se espera que eu me vá debruçar sobre elas...pode tirar o cavalinho da chuva.
Já alguma vez pensou naquelas expressões que se dizem diariamente sem, no entanto, ter consciência daquilo que está a dizer?
Se não pensou, devia. Porque geralmente, estará a dizer asneiras.
Felizmente, decidi elucidá-lo para que mais ninguém o chame de asno, dissimuladamente. Veja-me como um paladino da causa "anti-expressões idiomáticas", que mais não são do que versões ignóbeis e preguiçosas de uma afirmação, que apenas revelam a falta de esforço intelectual de quem as profere.
Enfim, poderão também significar outras coisas, mas se espera que eu me vá debruçar sobre elas...pode tirar o cavalinho da chuva.
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